diferentes CAMINHOS nos levam a um mesmo LUGAR

O percurso não era o meu habitual, nesse dia eu tive que mudar por conta de uma barreira física que me impedia de fazer o caminho de todos os dias. E foi nesse mesmo dia que tive um insight

TEXTO POR JORGE GONÇALVES

Dias desses estava andando pelo centro de São Paulo e me deparei com uma barraquinha de frutas, dessas que ficam estacionadas na porta do metrô ou em algum ponto estratégico onde circula muita gente. E o que mais me chamou a atenção foi a combinação de frutas. Me soava muito familiar aquela mistura. Jabuticaba e Tamarindo. Uma de origem brasileira, a outra, de origens africana e asiática, juntas, ali naquele tabuleiro, me fazendo lembrar e resgatar uma memoria afetiva, olfativa e gustativa de quando comecei a produzir geleias.

Foto: Jorge Gonçalves

Para quem não sabe, os primeiros sabores de geleia que produzi foram, justamente, Jabuticaba e Tamarindo. E não por acaso, pois eram as frutas que tinham em abundância na fazenda dos meus avós.

Tudo começou com minhas bisavós, que plantaram algumas mudas para consumo próprio. Hoje (se ainda existirem, pois com o passar do tempo, após meus avós e tia falecerem, não voltei mais lá) possivelmente são arvores centenárias, lembro de quando ia visitá-los e ficava impressionado com o tamanho delas. Quem sabe um dia eu retorno, e se lá ainda estiverem, faço um registro para vocês verem o quão frondosa são.

Por volta de setembro, sempre voltava da fazenda com polpa de tamarindo e com jabuticaba fresquinha, recém colhida. Além claro, de comer muitas bolinhas pretas ali mesmo, ao pé da jabuticabeira. Mais tarde eu carinhosamente comecei a chama-las de pérolas negras.

Numa dessas vezes me lembro de ter trazido uma quantidade muito grande de jabuticaba, foi um ano com uma grande safra e, se não me engano, eram 5 grandes jabuticabeiras. Não dava para comer tudo antes delas perderem o frescor, mesmo doando parte delas, era muita coisa! Foi então que minha mãe resolveu fazer uma geleia com parte das frutas. Segundo ela, era uma receita de sua avó, a mesma bisavó italiana que as plantou. E essa preparação era um pouco demorada por conta dos processos. Eu a ajudei, e confesso que foi um pouco cansativo, mas hoje eu entendo que cada um deles é necessário para o resultado final da receita.

Já o tamarindo foi mais fácil, pois recebemos em forma de pasta. Minha tia já tinha feito o processo pesado de “descascar” as vagens e passar toda a polpa por uma peneira. Fizemos também uma geleia com essa polpa.

Outra lembrança é que sempre que íamos para a fazenda, minha tia preparava um suco de tamarindo com essa polpa, apenas adicionava água, açúcar e gelo. Uma delicia!

Quando eu resolvi transformar essa receita em produto e comercializa-los, fui em busca de cursos e técnicas para aperfeiçoar e melhorar essa tradição familiar. Foi ai que adaptei alguns processos e desenvolvi outros, deixando exatamente como eu queria, porem com a memória e essência original.

Iniciei a produção, criei uma marca (que falarei mais detalhadamente em outro texto) e fui adaptando e ajustando de acordo com o que o mercado pedia, de acordo com o que fui aprendendo dia após dia. Essas duas sempre foram minhas “queridinhas” e, talvez por conta disso, sempre foram um dos sabores que mais vendi.

Eu sempre fui muito inquieto com relação a toda a linha de produtos, e sempre procurei oferecer o melhor, seja como produto, seja como visual, seja como a melhor opção para consumir e presentear. E por isso as embalagens, ao longo dos anos, sofreram alterações que, a cada mudança, agregavam mais e mais. Sejam informações básicas nutricionais ou, como como a ultima grande alteração visual, onde todo frasco era acomodado em uma caixa, que por sua vez contava a historia da marca e também com um folder ilustrando a origem da fruta, descrição da composição de sabor, sugestões de preparo e harmonização com outros alimentos. De fato, uma experiência única que transformou uma simples receita familiar em produto, que com o passar do tempo foi ficando conhecida e reconhecida como uma excelente opção para presentear e se presentar. Uma joia, e quem a ganhasse teria a percepção do carinho tanto de quem produziu quanto de quem ofertou.

Por diversos motivos, e mesmo durante e pós pandemia serem os anos em que eu mais trabalhei produzindo e comercializando as geleias, atualmente a produção está em pausa. Foi uma decisão difícil de tomar, mas necessária. As vezes é preciso um tempo para pararmos, olharmos com atenção para tudo, respirarmos, pensarmos e repensarmos sobre tudo. Refletir e analisar. Ficar muito tempo quase que 100% focado em um assunto as vezes nos permite não ver com clareza coisas que, de fora, enxergaríamos. E quando voce sai um pouco dessa bolha e olha de fora, começa a ver que é possivel fazer a mesma coisa de outra forma.

E como bem sabemos, o mundo é redondo e gira (SIIIIM, o mundo não é plano!) e nesses giros, volto ao começo do texto onde conto minha passagem pelo centro de São Paulo, onde vi a barraquinha de frutas. Seria isso um sinal? Será que eu deixei de focar na rotina e comecei a enxergar possíveis mudanças? Fazer a coisa de outra forma, mas chegar ao mesmo resultado é uma forma de melhorar o percurso e diminui-lo? Só vamos saber se o fizermos. Se arriscarmos e se tivermos condições de desbravar outros caminhos.

E foi a partir dessa reflexão que pensei uma forma de manter a produção das geleias, mesmo que não fossem feitas por mim, mas que a receita fosse mantida e preservada, pois esse sempre foi o diferencial. Encontrar alguém que pudesse seguir com a produção, que aceitasse desenvolver junto comigo e aprender as técnicas necessárias para chegar ao mesmo ponto, sabor e equilíbrio foi um desafio.

Esse percurso (que me levou a barraca de frutas) não era o meu habitual. Nesse dia eu tive que mudar por conta de uma barreira física que me impedia de fazer o caminho de todos os dias. E foi nesse mesmo dia que tive o insight de propor a alguém (ou alguma empresa) de continuar produzindo as minhas geleias. O fato de diferentes caminhos nos levarem ao mesmo lugar, pra mim, foi um grande aprendizado.

Foto: Florent Prevost

Como eu já conhecia o Florent da Douceur do Céu, contei para ele sobre a geleia, as idéias em manter a produção “VIVA” e a principio ele achou interessante mas adiantou que já tinha testado inúmeras senão todas receitas e maneiras de fazer e nenhuma delas foi satisfatória, fato que ele ainda não tinha esse sabor em catalogo pois nenhuma o havia agradado. Foi então que eu disse a ele: você testou quase todas, ainda falta a minha… podemos tentar? Foi ai então que eu passei passo a passo da receita, todos os processos e segredos que a tornam tão especial e única.

Feitos os testes, Florent ficou impressionado com o resultado, achou que o sabor, textura e cor ficaram perfeitas e BRIX e Ph equilibrados. Super aprovada a receita! Imagina a minha felicidade em saber que a geleia ia continuar sendo produzida e compartilhada na mesa de todos!

Foto: Florent Prevost

O objetivo na concepção dessa geleia foi de poder aproveitar ao máximo possível a fruta, usando a casca e descartando somente as sementes, limitando desperdício.

E o mais importante de tudo, para todos aqueles que já tiveram a oportunidade de provar e eram apreciadores da geleia, ela está de volta!

Assim que eu comecei a comunicar aos amigos, clientes e fornecedores que faria uma pausa, percebi uma certa tristeza… Não somente pelo fato de parar por um tempo com a produção, mas a maioria das pessoas que acompanham meu trabalho estão comigo desde o começo, todos viram e acompanharam minha evolução e também a dos produtos. Todos sempre estiveram comigo e torcendo a cada lançamento, vibrando a cada novidade e compartilhando a cada degustação. Parte da força para continuar e poder nesse momento relatar tudo isso vem de vocês. Só tenho a agradecer pelo apoio e energia! AGORA eu estou bem!

E de uma forma um pouco diferente, a geleia continua VIVA, a receita original e tradicional não se perdeu. Ela está tão presente quanto era no passado, apenas com uma nova “roupagem” e mais uma carga de história!

E para que você tenha uma experiência única, sensorial e afetiva a geleia está disponível para venda através do site, BASTA CLICAR NO LINK ABAIXO:

https://douceurdoceu.com/produtos/item/item.php?id=G31https://douceurdoceu.com/produtos/item/item.php?id=G31

E para quem sente saudade da Geleia de Tamarindo, quem sabe alguém se interesse em seguir a mesma tradição e receita e em breve possa anunciar o retorno dela…

Se você gostou, curte, comente e compartilhe!

A sobrevivência de um conteúdo produzido por profissionais como eu depende muito de vocês, caros amigos leitores e leitoras! E para se manter vivo e chegar a mais pessoas é preciso um grande empenho no boca a boca, isso é muito importante! Indique, compartilhe, curta e, sempre que puder, comente aqui embaixo. Fico extremamente feliz em ouvir vocês, suas dúvidas, sugestões e histórias, e saber que tem mais alguém aí do outro lado que ama GELEIA e tudo o que diz respeito a esse UNIVERSO <3

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3 comentários Adicione o seu

  1. Marilia Ribas disse:

    Olá! Você é um Mestre Geleiro muito conceituado, parabéns. Poderia me explicar a sua receita de Jabuticaba: com 49 gramas da fruta + 39 gramas de açúcar rendem 100 gramas de geleia? A diferença é com água? Em que momento você coloca o suco de limão? Agradeço

    1. admin disse:

      Muito obrigado pelo carinho! Depende muito de vários fatores, inclusive de tempo de cocção, técnica e proporção dos ingredientes. Essas quantidades que você questiona te resulta em uma geleia que usa aproximadamente 79% de açúcar, é esse mesmo o resultado que você deseja? Na cozinha é assim mesmo, tentativa, erro e acerto faz parte do processo de desenvolvimento. Continue acompanhando os textos, a cada dia ensino algo novo e aprendo muito mais com vocês. Abraço Marilia!

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